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Château Batalha

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Château Batalha, sua casa no Centro de Portugal

domingo, 17 de junho de 2018

Rostov-on-Don, palco da estreia do Brasil na Copa do Mundo de 2018 e ninho dos gigantes que voam

(Daniel R.Carneiro, 06/2018; fotos: Daniel R.Carneiro e outros)


Jornalistas dos setores de aviação e defesa posam para foto em frente à fábrica de helicópteros Rostvertol

Rostov-on-Don é cortada pelo rio que lhe dá o nome, o Don
Antes mesmo de o Brasil sediar a Copa de 2014, tive a oportunidade de fazer uma rápida visita à cidade onde nossa seleção faz seu primeiro jogo nesta edição de 2018 do maior torneio de futebol do mundo. O que poucos sabem é que, antes de receber a seleção canarinho, Rostov-on-Don é um dos maiores centros de alta tecnologia da Rússia, e é lá que são construídos os maiores e mais poderosos helicópteros do mundo. E foram esses helicópteros, e não o futebol, que me levaram a esta cidade até então desconhecida pelos brasileiros.

Vista aérea da cidade

As largas avenidas de Rostov relembram a imponência de projetos dos tempos da União Soviética


Situada às margens do rio Don, próxima à fronteira com a Ucrânia e a 1.226 km a sul de Moscou, Rostov-on-Don é um importante porto e polo industrial e comercial no sul da Rússia. Fundada em 1749, a cidade tem uma população de aproximadamente 1.125.000 habitantes (quase a mesma dos municípios paulistas de Campinas e Guarulhos), sendo a décima mais populosa do país. Sua posição geográfica favorável contribuiu para seu grande desenvolvimento econômico :  o rio Don é uma importante rota de ligação entre  o sudoeste e o norte da Rússia, especialmente desde a construção do canal Volga-Don, em 1952 (que deu à cidade  o título de "porto de cinco mares" -  Mar Negro , o Mar de Azov , Mar Cáspio, Mar Branco e o Mar Báltico -,  e a transformou em um porto de importância estratégica para o comércio).

O rio Don, que dá nome à cidade



A região de Rostov é berço dos Cossacos, povo guerreiro que, por suas habilidades para o combate, contribuiu de forma fundamental para a expansão do império russo, impondo respeito a inimigos fortes como imperador francês Napoleão Bonaparte (que, como mais tarde fez Adolf Hitler, tentou sem sucesso subjugar a Rússia). Conta-se que Napoleão teria dito "Deem-me só Cossacos, e eu tomarei toda a Europa com eles.".



Shopping center

Shopping Center e vista parcial da cidade

Em 2013, Rostov-on-Don registrou o maior índice de crescimento (45,8%) da atividade industrial entre as cidades da região, resultado que deveu-se, em grande parte, pela fabricação de helicópteros, a cargo da Rostvertol. Como faz eventualmente, a indústria aeronáutica russa costuma convidar jornalistas especializados em aviação a conhecer suas fábricas e produtos. Em agosto de 2013 tive a honra de ser um dois convidados do Brasil, representando a revista Segurança&Defesa.

O Mil Mi-24, helicóptero militar que é o produto de maior sucesso na história da Rostvertol

Linha de produção dos helicópteros militares Mil Mi-35, usado pelas forças aéreas da Rússia e do Brasil

A história da Rostvertol teve início em 1o julho de 1939, com a fundação de uma fábrica de hélices de madeira para aeronaves civis e militares. Durante a 2a Guerra Mundial (conhecida na então União Soviética como Grande Guerra Patriótica, conflito em que os soviéticos derrotaram os invasores nazistas), teve início a produção de aviões de treinamento e bombardeiros, em 1954 foi construído seu primeiro avião de combate a jato. Em 1956 a fábrica passou a produzir exclusivamente helicópteros, como o Mil Mi-1, primeiro helicóptero produzido em série na União Soviética. Três anos depois, a fábrica de Rostov-on-Don dava início à produção do primeiro helicóptero de grande porte, o Mi-6 (que com 33,18 metros de comprimento, tem quase as mesmas dimensões dos jatos de passageiros Boeing 737 e Airbus A319 que fazem a ponte-aérea Rio-São Paulo). Em 1964 a Rostvertol iniciou a produção mais um gigante, o Mi-10, capaz de carregar até 15 toneladas de carga (incluindo ônibus e caminhões) em plataformas sob sua fuselagem.

Mil Mi-1, primeiro helicóptero produzido em série na Rússia

Mil Mi-6, o primeiro de uma série de gigantes produzidos pela Rostvertol

Mil Mi-10, outro gigante fabricado em Rostov (este e o Mi-6 não estão mais em produção)

Com o know-how adquirido no projeto e construção do Mi-6 e do Mi-10, o escritório de design Mil e a fábrica de Rostov iniciaram o desenvolvimento de um helicóptero de transporte de grande porte de nova geração, o Mi-26, que voou pela primeira vez em 1978 e mantém o título de maior helicóptero do mundo em produção. Inicialmente desenvolvido para fins militares, o Mi-26 foi posteriormente adaptado para o uso civil, que inclui o suporte a grandes projetos de engenharia (erguendo e transportando torres de telecomunicações e transmissão de energia ou outras grandes cargas) e combate a incêndios florestais.

O autor, em visita à Rostvertol em 2013 (foto: Claudio Lucchesi, Revista Asas)

Mil Mi-26, maior helicóptero do mundo atualmente em produção

Em meados de 1960 foi lançado o programa que é um dos carros-chefe da indústria aeronáutica russa até hoje: a família de helicópteros militares Mi-24 "Hind", cuja produção teve início em 1969. Primeiro helicóptero soviético especialmente desenvolvido para transportar soldados simultaneamente a um grande poder de fogo, o Mi-24 tornou-se rapidamente um sucesso mundial, sendo adquirido pelas forças militares de nações alinhadas à então União Soviética, e suas variantes mais recentes, como o Mi-35, tem despertado o interesse de clientes até então inimagináveis, como  a Força Aérea Brasileira (durante nossa visita à fábrica, aguardavam a entrega os três últimos de uma série de 12 encomendados pelo Brasil).

O helicóptero militar Mil Mi-35, semelhante a um dos 12 comprados pela Força Aérea Brasileira para patrulhar a Amazônia

Um dos Mil Mi-35 comprados pela FAB para o patrulhamento da Amazônia

Em 1992, a fábrica de helicópteros de Rostov (Rostov Helicopter Plant) passou a chamar-se Rostvertol, e em 2010, com a reestruturação da indústria aeronáutica russa, passou a fazer parte da recém-criada Russian Helicopters. Hoje a Rostvertol é responsável pela produção dos helicópteros de combate Mi-28N Night Hunter e Mi-35M, além dos transportes pesados Mi-26T e Mi-26T2 (com cockpit digital). Suas instalações em Rostov incluem uma linha de produção de pás de hélices convencionais e em materiais compostos para a linha de helicópteros atual e para outros modelos mais antigos mas ainda em operação; uma oficina onde as partes de helicópteros feitas com alumínio recebem tratamento químico contra a oxidação; a oficina de montagem final, onde a estrutura principal de cada helicóptero recebe motores, sistemas de transmissão, aviônicos e armamentos; e a estação de testes de voo, um amplo aeródromo onde são realizados os checks pré-voo e os voos de teste propriamente ditos.

Mil Mi-28, um "blindado voador", um dos mais recentes projetos da Russian Helicopters

A Rostvertol vem investindo, nos últimos anos, na modernização de todo o processo de produção, informatizando-se com novos sistemas de computadores e softwares a fim de preparar-se para a produção de helicópteros de novas gerações. A companhia está ciente do potencial de seus produtos no mercado internacional  - hoje presentes em mais de 30 países -, e quer conquistar novos mercados ou crescer naqueles onde a indústria aeronáutica russa chegou recentemente, como Brasil, México, Grécia, Emirados Árabes e Coréia do Sul, atingindo não apenas o setor de defesa, mas também clientes civis.

Sendo minha visita a Rostov de caráter profissional e técnico, não foi possível conhecer a fundo os atrativos desta simpática cidade do sul da Rússia, mas é possível que tenha sido um dos poucos brasileiros a conhecer um de seus lugares mais charmosos antes que esse fosse destruído por um incêndio pouco mais de um ano após nossa visita: o restaurante Peter’s Mooring, localizado na margem esquerda do rio Don, que corta a cidade, onde, além de apreciar a saborosa culinária local, podia-se assistir a animadas apresentações de música tradicional russa.








O charmoso restaurante Peter's Mooring (Ancoradouro de Pedro), destruído por incêndio no ano seguinte à minha visita

Entre as atrações mais populares para quem visita Rostov, estão os pequenos cruzeiros pelo rio Don, operados por confortáveis barcos-restaurante. A cidade conta, ainda, com pelo menos um grande shopping center e um centro de convenções no hotel onde a Rostvertol costuma hospedar seus convidados, o Vertol Hotel.

Aeroporto de Rostov, antes das obras de ampliação para a Copa de 2018

De volta a Moscou em um Boeing 737-400 da Donavia, companhia baseada em Rostov (absorvida pela Aeroflot em 2016)

Acredito que a Rostov-on-Don de hoje esteja bem diferente da que visitei há cinco anos, já que os preparativos para a Copa do Mundo trouxeram à cidade investimentos que a prepararam melhor para receber turistas de todo o mundo - entre eles a ampliação e modernização de seu aeroporto, na época de minha visita muito aquém de terminais mais modernos como o Sheremetyevo, em Moscou. Do aeroporto internacional de Rostov-on-Don chegam e partem voos para outras cidades da Rússia, Europa e Oriente Médio.

Imagens de Rostov-on-Don (fonte: Wikimedia Commons / Wikipedia)

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